Mais da metade das mulheres negras brasileiras (53%) que enfrentaram violência doméstica vivenciaram a primeira agressão antes dos 25 anos, de acordo com a Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher Negra, realizada pelo DataSenado e Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência. O estudo ouviu 13.977 mulheres negras em todo o país, destacando que 87% das vítimas sofreram agressões psicológicas, seguidas por 78% de violência física, 33% patrimonial e 25% sexual.
O levantamento evidencia a gravidade da violência estrutural enfrentada por mulheres pretas e pardas, grupo mais vulnerável no país, segundo dados do Sistema Nacional de Segurança Pública (Sinesp). Entre as mulheres vítimas de violência sexual com registro de cor/raça, 62% eram negras. Em 2022, 67% das 3.373 mulheres assassinadas no Brasil também pertenciam a esse grupo, conforme o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Esses números escancaram o impacto desproporcional da violência em um recorte racial e social.
Mesmo diante dessa realidade alarmante, as mulheres negras frequentemente enfrentam barreiras para romper o ciclo de violência. Segundo o estudo, 55% das vítimas recorrem à polícia, mas apenas 28% solicitam medidas de proteção. Além disso, quase metade dessas medidas protetivas (48%) é descumprida, refletindo as falhas do sistema em garantir a segurança dessas mulheres. Muitas vítimas ainda optam por buscar apoio em redes sociais, como família (60%), amigos (41%) e igrejas (45%), reforçando a necessidade de fortalecer políticas públicas e ampliar serviços especializados.
A analista Milene Tomoike, do Observatório da Mulher Contra a Violência, destaca a urgência de ações preventivas e de proteção ampliada. “Embora muitas vítimas busquem apoio em suas redes, é fundamental fortalecer políticas públicas e ampliar o acesso a serviços especializados, garantindo acolhimento, segurança e caminhos reais para reconstrução.” O estudo reforça que o enfrentamento à violência contra mulheres negras exige esforços integrados para reverter a dinâmica de silenciamento e exclusão vivida por esse grupo.
Comentários: