A desigualdade no acesso a leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Brasil reflete um problema crônico de distribuição de recursos na saúde pública. Enquanto estados como o Distrito Federal possuem 76,68 leitos para cada 100 mil habitantes, o Piauí registra apenas 20,95 para a mesma proporção populacional. A média nacional é de 36,06 leitos por 100 mil habitantes, mas 19 estados estão abaixo desse patamar, revelando disparidades alarmantes entre regiões. No Norte, a densidade é de 27,52 leitos, enquanto o Sudeste conta com 42,58.
Além da falta de leitos, a carência de profissionais especializados agrava a situação. No Norte, cerca de 66% dos médicos que atuam em UTIs não possuem formação específica na área, comparado aos 50% do Sul que têm essa especialização. Essa lacuna foi particularmente evidente durante a pandemia de COVID-19, quando as taxas de mortalidade variaram significativamente entre as regiões, de acordo com a qualificação dos intensivistas disponíveis. Apesar disso, o número de especialistas aumentou 51% entre 2011 e 2023, alcançando 8.091 profissionais no país.
Outro desafio é a concentração de leitos e médicos em grandes capitais, enquanto estados menos populosos enfrentam extrema escassez. No Amapá, por exemplo, existem apenas cinco médicos intensivistas para uma população de aproximadamente 730 mil pessoas. A presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), Patrícia Mello, defende a expansão de programas de residência médica em áreas remotas e políticas de incentivo para atrair profissionais para as regiões mais carentes.
O Sistema Único de Saúde (SUS), que responde por 51,7% dos leitos de UTI no Brasil, precisa atender a uma demanda muito superior à do sistema suplementar. Enquanto o SUS assiste cerca de 152 milhões de brasileiros, os planos de saúde abrangem apenas 51 milhões. Para reduzir as disparidades, especialistas defendem investimentos públicos consistentes em infraestrutura, capacitação profissional e políticas de equidade regional.
Comentários: