O governo brasileiro trabalha para que o anúncio político da conclusão do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia seja realizado nesta sexta-feira, 6, em Montevidéu. Após 25 anos de negociações, integrantes do Planalto e do Itamaraty consideram que os obstáculos técnicos foram superados. A decisão depende agora de um posicionamento definitivo da União Europeia, cuja presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, ainda não confirmou presença no encontro.
Apesar do otimismo brasileiro, o cenário europeu é marcado por pressões internas e um contexto político instável. A França, principal opositor do acordo, tenta mobilizar aliados como Polônia, Holanda e Itália contra sua aprovação. No entanto, a Alemanha e a Espanha lideram a coalizão favorável ao pacto, reforçando sua importância em um momento de tensões comerciais globais, agravadas pelas políticas protecionistas do ex-presidente dos EUA, Donald Trump.
Para os negociadores, um possível anúncio em Montevidéu seria um marco político, mas não garante a implementação do acordo. Após a declaração, o texto final ainda passará por revisões, traduções e precisará de aprovação no Parlamento Europeu. Somente depois dessa etapa ele será ratificado pelos países-membros da União Europeia. A França, em particular, pode tentar bloquear o avanço durante o processo legislativo, aproveitando sua influência no bloco.
O histórico da negociação é marcado por avanços e retrocessos. Em 2019, os blocos chegaram a anunciar a conclusão do texto, mas o aumento do desmatamento na Amazônia sob o governo Bolsonaro gerou críticas que interromperam o andamento. Desde então, o governo Lula buscou retomar as conversas, culminando em sete rodadas de negociações entre agosto de 2023 e novembro de 2024. Ajustes em questões ambientais e de compras públicas foram realizados para atender às demandas europeias.
A importância estratégica do acordo é destacada por especialistas, especialmente diante de um cenário internacional de fragmentação comercial. Com uma população combinada de 800 milhões de pessoas, o pacto Mercosul-União Europeia representa a possibilidade de ampliar mercados e impulsionar economias dos dois lados do Atlântico. Contudo, a concretização do projeto ainda depende de decisões políticas que transcendem os esforços técnicos e diplomáticos realizados até aqui.
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