O atentado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, realizado por Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, expôs uma trajetória marcada por comportamento discreto e posterior adesão a discursos radicais. O catarinense, descrito por vizinhos como simpático e prestativo, surpreendeu ao se explodir próximo à estátua da Justiça na noite da última quarta-feira (13). O ataque elevou o alerta de segurança na capital federal e reacendeu o debate sobre o impacto da radicalização política.
Residente temporário em Ceilândia, no Distrito Federal, Luiz mantinha hábitos rotineiros e uma relação amistosa com os vizinhos, segundo relatos. Gleide Alves, responsável pelo albergue onde ele se hospedava, afirmou que ele era conhecido por ajudar com tarefas domésticas e por demonstrar interesse em assuntos religiosos. A mudança de comportamento nos dias que antecederam o atentado chamou a atenção. “Parou de conversar, ficou diferente. Saiu cedo, varreu a porta, e nunca mais voltou”, disse Gleide.
Em seus últimos dias, Luiz deixou mensagens enigmáticas. No espelho de seu banheiro, escreveu uma frase com batom, fazendo alusão a Débora Rodrigues, envolvida nos ataques de 8 de janeiro. No bar que frequentava, grafou com giz seu antigo nome de urna, “Tiü França”, e cantou a música “Decida”, da dupla Milionário e José Rico, em um tom que alguns interpretaram como despedida. Amigos próximos, no entanto, não perceberam sinais claros de sua intenção.
A investigação policial revelou que Luiz fabricou os explosivos com materiais simples, como tijolos, que alegava serem para produção de souvenirs. Em suas redes sociais, derrubadas após o ataque, disseminava teorias conspiratórias, como o QAnon, e fazia ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao governo federal. Entre suas interações, predominavam páginas de extrema-direita, como as relacionadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e ao filósofo Olavo de Carvalho.
O episódio lança luz sobre o processo de radicalização de indivíduos aparentemente comuns, que passam a adotar atitudes extremas. Autoridades seguem investigando possíveis conexões de Luiz com outros grupos ou articuladores, enquanto a tragédia reforça os desafios do enfrentamento à disseminação de discursos de ódio e desinformação no Brasil.
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